Crônica da Monica…

SÁBADOS
 
 
Sábado, adoro sábados! O despertador não toca. Durmo até o sono acabar. Permaneço na cama, deixando os sonhos virem a minha lembrança. Gosto de me lembrar deles, às vezes são tão bons que fecho os olhos, numa tentativa de que continuem, para ver se terão um final feliz.
Me levanto, arrumo a mesa do café da manhã para duas pessoas. Com direito a tudo. Louça branca, para que possa apreciar melhor o colorido das frutas, do café com leite, dos pães, dos cereais… Rodolfo normalmente acorda mais tarde, de modo que tomo meu café sozinha. Lavo a louça e a deixo no escorredor de pratos.
Abro a porta da cozinha, pego o jornal e vou para um canto muito gostoso que tenho em meu quarto: poltrona confortável, pufe para apoiar as pernas, uma estante com meus livros e, sobre ela, uma janela com uma linda vista para o Aterro.
Depois de lido o jornal, pego meu I30 na garagem e saio em direção ao Aterro. Ligo o som, como de costume. Concha Buika, cantando Oro Santo. Aumento o volume, Buika mexe comigo. Costumo dizer que quando canta, ela está na dor ou está na alegria. É como um transe.
Uau, sou tomada por uma vontade louca de dançar! Quando chegar ao clube vou ligar para alguns amigos. Quem sabe topam ir dançar à noite? Todos se animam e já deixamos combinado para as nove horas.
Fiz uma massagem, uma sauna a vapor, para relaxar. Depois segui de volta para casa. Toca meu celular. Eram meus filhos, querendo saber onde iríamos almoçar. Respondo, onde vocês quiserem, desde que tenha carne, carne vermelha. Hoje vou sair para dançar e preciso de energia!
– Nossa mãe!!! O que deu em você hoje?
– Nada, simplesmente estou feliz e com vontade de dançar!​
– Ah tá!!!
Algumas perguntinhas básicas, do tipo: Com quem você vai? Onde vão dançar?
Curiosidades de filhos de pais separados, mesmo que já sejam adultos.
Almoço gostoso, um cineminha depois. Para casa descansar um pouco e finalmente me arrumar.
Me distraí com a hora, já são oito.  Abro o guarda roupas, escolho um vestido de seda. Adoro roupas de seda, são como um carinho no corpo. Vestidos assim, com um pouco de roda, dão uma graça especial quando dançamos. Vejo um par de sapatos. De salto alto, é claro! Põem a coluna ereta e embelezam as pernas. Sapatos de salto alto são para as mulheres assim como os carros são para o homens. Dá para entender?
Isso resolvido, tomo meu banho. Um pouco de blush, para dar um ar de saúde. Bastante rímel e gloss nos lábios. O gloss, concentrado no meio dos lábios, funciona como uma explosão de luz! Além do mais, não gosto de batons pastosos e escuros. Eles cobrem um sinal lindo que tenho no lábio inferior.
Toca o telefone, era Kátia. Querendo saber se eu estava pensando em ir de carro.
Digo que de jeito nenhum! Quero poder tomar um drink, ficar soltinha e aproveitar a noite.
Ela diz, não se preocupe, o Claudio se ofereceu de nos pegar em casa e trazer de volta, caso seja necessário.
Ok, digo. Deixe eu acabar de me arrumar.
Farei o mesmo, ela diz.
Ponho então o vestido,os sapatos, pego a bolsa, dinheiro, cartão, celular e penso… Está faltando alguma coisa! Ah sim! O perfume. O perfume deve ser usado, sempre, com muita parcimônia. Uma gotinha atrás das orelhas e outra nos pulsos. Se há algo que considero deselegante, é impingir aos outros a escolha do meu perfume. 
Toca o celular. – Estamos aqui embaixo te esperando.
Estou descendo…  
Percebo, ao chegar na portaria, que Claudio havia trocado de carro. Entro e digo: carro novo, cheirinho bom de couro. – Estamos estreando sua máquina nova hoje, Claudio?
– Sim estamos. Peguei o carro ontem. O que achou?
– Maravilhoso! Confortável, painel bacana, automático. Que tal o som dele? – pergunto.
O que mais me interessa num carro, é o som. Gosto de ouvir música quando dirijo. Sempre me enche de emoção.
– O que gostariam de ouvir?
Kátia não se atreve a escolher a música.
– O que você tem para nos oferecer? – pergunto.
– Mpb, Jazz, Pop…
– Que tal mpb? Você tem Adriana Calcanhotto?
– Tenho o último cd dela.
– Ok, manda ver. Assim vamos entrando no clima.
Trajeto curto. Chegamos ao nosso destino.
Entramos. Subimos. Reservamos uma boa mesa e descemos ao restaurante para jantar, enquanto esperamos a hora do show começar. Jantar agradável, papo bom. Hora do show. Subimos novamente, nos acomodamos e começa a música.
Percebo pouco a pouco, as pessoas começando a balançar o corpo em suas cadeiras. Na terceira música, alguns casais se levantam e começam a ocupar a pista.
Ninguém segura mais ninguém.
Fomos para a pista, Claudio me tirou para dançar e um amigo da Kátia, que encontramos por lá, a tirou também. Dancei até cansar. Fizemos uma pausa para uma água e uma caipirinha de lima da Pérsia. Um dos meus drinks favoritos.
Havia um grupo grande ao lado de nossa mesa. Mais mulheres do que homens, é claro! Pessoal animado. Um dos caras, um pouco tímido ou talvez apenas um pouco intimidado pelas parceiras de dança (algumas mulheres hoje são um pouco agressivas quando dançam), me olha e me dá um sorriso. Dou outro..
Kátia e o amigo voltam para uma pausa. 
Quando o rapaz percebe que Claudio não ficará sozinho, me tira para dançar.
Aceito.
Ao chegar à pista e me tomar pela mão, percebo nele um certo nervosismo. Ele me toma com o outro braço e posiciona sua mão sobre minha cintura, me trazendo para muito perto de seu corpo e com isso errando o lugar dos pés. Me pede desculpas e diz que não é bom dançarino.
Digo a ele, claro que é. Pegue minha mão, ponha sua mão esquerda bem aberta em minhas costas. Deixe uma pequena distância entre nossos corpos, para que eu possa entender seus comandos. Posicione agora seus pés. Sinta a batida da música e marque o passo. Não se preocupe comigo. Tratarei de ficar leve como uma pluma para que deslizemos juntos por este salão. 
Tudo bem?
Tudo ótimo!!!