Dr. Antonio,

Obrigado por encerrar este ano permitindo meu desabafo!!! Venho de uma família com uma vulnerabilidade genética para o alcoolismo! Meu pai e meu tio morreram por esta doença terrível, um por usar o álcool como remédio contra a depressão o outro por trabalhar como representante da Cervejaria Brahma. Eu durante os anos selvagens abusei do botão de sobrevivência, até desenvolver esta fibrose hepática idiopática!

Mudei minha vida, fiquei um chato comigo mesmo. Abandonei Mayakovsky, Pessoa, Jung e tantos outros autores que me empolgavam. Fui me dedicar a estudar compulsão, controle, tiques, impulso e coisas que envolvem pensamento e ação! Mas hoje percebi que eu deveria ter estudado o Tempo…descobrir como controlar sua velocidade aproveitar muito mais os bons momentos para gerar memórias com muitos detalhes destas vivências e poder resgatar todas estas memórias, dos amigos, músicas, lugares e afetos!

Enfrentar o sentimento de solidão é uma luta só termina quando a vida chega ao fim! Amigos do Instituto, espero poder revê-los em breve! A todos um abraço saudoso!

Dr. Solano

Dr.Antonio e Amigos do Instituto!
Escrevo na esperança de não enviar esta que pode ser a última carta para vocês! Nos últimos 4 anos venho lutando contra diabetes e suas consequências. Na semana passada meu rim parou de funcionar e como se isso não bastasse agora uma coronária está entupida!! Assim estou de “molho” no hospital,aguardando meu cirurgião voltar da viagem para fazer uma ponte safena. Bom, isso é o que me dizem… mas depois de 36 anos trabalhando neste hospital eu sei que estou mais pra lá do que pra cá. Meu professor de clínica médica sempre dizia “nós morremos por entupimento” e eu acho que estou todo entupido! Mas vou seguir acreditando. A rotina de paciente é muito diferente da rotina do médico. Todos me tratam com carinho e dedicação mas nada faz o tempo passar, horas viram dias e dias viram anos. As manhãs são sempre a melhor parte! Dr.Calvete com o sorriso otimista, me conta uma fofoca dos colegas, depois tenta me animar com piadas e por fim falamos da minha doença cardíaca e as expectativas com a cirurgia. Tomo meu banho sozinho e faço a hemodiálise em dias alternados. Tenho tempo de sobra para refletir sobre minha vida e vejo que cometi mais erros que acertos, por sorte aprendi com cada erro e hoje sou grato por tudo que já vivi! As tardes, pela janela do quarto vejo o prédio, construído aonde era a casa dos meus pais e onde vivo até meus 19 anos quando fui morar em Rio Grande e cursar medicina! Me pego lembrando dos dias de sol, no inverno, minha mãe sentada na escada, descascando bergamota, sempre com seu sorriso acolhedor e amável e eu a admirava tanto por ser assim, mesmo depois da vida ter levado dois de seus 4 filhos! Vejo meu pai, sentado olhando o vai e vem de carros e pessoas, fumando o cigarro proibido. Por vezes adormeço sentindo a mão deles me acariciando, acordo tranquilo e sei que a noite chegou. Sabe que tenho tempo para recordar dos acampamentos no capingui e posso sentir o cheiro do granito assado pelo diabo Scortegagna ! Lembro das festas na praia do cassino, da casa em Rio Grande junto com o Tucha e o Pata…Aos poucos o cansaço toma conta de mim e durmo. Acho que este é o meu maior patrimônio, amigos! Sim os amigos tantos que acho por isso meu coração cresceu! É isso Dr.Antonio, vou me preparar para mais uma batalha, confesso que estou debilitado e realista! Mas a alternativa de não lutar, está fora da minha essência!
Abraços a todos!
Dr. Roberto

Obrigado e desculpe pelo incomodo.

—Administrador de Sistemas, Instituto Felipe Néri

Querido Dr.Andre

Pare de usar lamentações no dia a dia!
Veja só como eu,um velho,cheio de manias,chato e cri cri,consegui algo inédito e muito divertido.
Estou dançando…terças e quintas,coloco meu sapato italiano,solado de couro e risco o salão ao som do mais triste tango argentino…
“Por una cabeza”
Os bailes ou milongas produzem uma variedade de encontros que promovem diversão e entusiasmo!
Não me sinto mais tão só! Tantos outros ali,eram como eu,cheio de lamúrias, decepções e solidão.Agora a cidade ficou maior e melhor! Trate de combinar com Dr.Antonio uma visita a Passo Fundo,vamos comer granito e dançar…
Pense menos e dance mais!
Abraços do amigo
Guimarães

 Part II

Caro Dr.Solano!

Os últimos  acontecimentos foram muito marcantes,por terem resgatado uma quantidade de boas lembranças do período da longa adolescência  e início  das nossas atividades acadêmicas,ha mais de trinta anos…
Certamente nosso amigo Norton, the real one, já faz parte do querido Instituto e vem contribuindo com as mais divertidas histórias,compartilhando sua trajetória pessoal de luta diaria pela construção  da felicidade!
Neste caminho pontilhado da vida, nos aproximamos para dizer
que sim, tudo foi verdade…
Vivemos toda sorte de momentos, criamos possibilidades que nos lançaram ao mundo tão  grande e pequeno como Passo Fundo…
Acho que é algo que começa aos cinquenta…to old to rock and roll, but too young to die…
Mesmo da distante Salamanca,sei que vai sorrir ao lembrar da figura!
Um forte abraço
Dr.Antonio