Hoje não tenho uma crônica para vocês e sim um texto desarrumado. Sim, desarrumado como minhas emoções. Tento entender o que Violeta Parra fez comigo. Segunda-feira, ao chegar da Colômbia, fui assistir ao filme Violeta se fue a los cielos. Além da beleza plástica do filme de Andrés Wood, das canções de Violeta e da bela atuação de Francisca Gavilán, algo me perturbou muito e ainda não consegui identificar o que foi.
Fui à Colômbia para o casamento do meu irmão caçula. Eric se apaixonou por uma moça colombiana. Casaram-se aqui no Brasil, no civil, e decidiram que o religioso seria na Colômbia, já que toda a família de Maira vive lá. Foi o primeiro casamento na igreja católica em nossa família. Achei bonito, da parte de meu irmão, levar Maira ao altar e jurar diante Deus, familiares e amigos, amor eterno. É um gesto generoso, já que sabemos que o casamento católico é indissolúvel. Foi lindo vê-los se olhando nos olhos com tanto amor, alegria e gratidão por terem se encontrado. A festa foi pura alegria. Muita comida, bebida, doces, música e dança. Houve discursos, também tiramos muitas fotos e fizemos muitas brincadeiras. Foi maravilhoso!!!
Aproveitei a oportunidade para conhecer um pouco da Colômbia. Comecei por Bogotá. Cidade bonita, de bastante verde, de pessoas muito educadas e amáveis, mas muito sérias e reservadas. A altitude de 2600m acima do nível do mar me fez sentir dor de cabeça e cansaço ao caminhar. Cidade de clima frio, céu mais para cinzento e chuvoso. Percebi desde aí que estava em um país extremamente católico e de mais brancos que indígenas. Pude então sentir o peso da colonização espanhola. Há muito sinto algo ambíguo pela Espanha e pelos espanhóis. Amor, por ter nos recebido, ainda na minha infância (pai e dois irmãos). Era uma Espanha de Franco. Apesar da severa ditadura, fui muito feliz lá. E raiva por ter feito meu país – Bolívia – e tantos outros, nascerem duas vezes. Deixando em mim uma pergunta que nunca terá resposta.
Também estive em Bucaramanga, capital de Santander. Cidade pequena, bonita, de verde e flores, esportes radicais, clima quente, que fica a 1200m de altitude. Povo educado e amável, mas não tão formal. Girón, distrito de Bucaramanga, cidade pequenina, estilo colonial, onde todas as construções são pintadas de branco. Clima igualmente quente. Valeu a visita de meio-dia e o almoço muito bom.
Medellín, minha cidade favorita. Por toda sua riqueza natural, verdes múltiplos, flores coloridas e de diversas espécies, que brindaram meus olhos e alma com toda sua beleza. Fica a 1530m de altitude, conhecida como cidade da primavera, por seu clima ameno e por suas belas flores. Cidade, em grande parte, de arquitetura moderna e arrojada, que muito me surpreendeu por seus belos projetos. Paisas (são chamados de paisas os nascidos em Medellín) são reconhecidos por seu temperamento empreendedor. Daí, certamente, vem o crescimento ordenado dessa bela cidade. Há metrô em Medellín e também metrocable, que nos leva às favelas. Aliás, favelas calçadas, com ruas asfaltadas, casas de tijolos e bem construídas. Com água, esgoto, coleta de lixo, creches, escolas, quadras esportivas, pracinhas com brinquedos e transporte de todo tipo. Árvores e flores também fazem parte da paisagem daquelas comunidades, que, penso, devem ser um modelo a seguir.
Para finalizar a viagem, chego à Cartagena de Indias. Caribe e, portanto, mar e muito calor, apesar do outono. População mais negra que branca e indígena. Certamente por ser uma cidade portuária, foi onde se concentraram os negros trazidos da África. Povo educado, mas muito pouco formal, a cidade – turística por sua história e por sua beleza caribenha – abriga uma grande muralha a cercar uma urbe em estilo colonial, na qual vivia a burguesia. Programa imperdível em Cartagena é o passeio na Chiva Rumbera, ônibus no estilo da nossa esquecida Jardineira, porém com música ao vivo, muito rum, coca-cola e gelo, num trajeto que conduz à cidade muralhada. Lá, todos dançamos rumba até não aguentar mais. Valeu a pena, apesar de ter acabado a noite com câimbra nos pés de tanto dançar rumba, um estilo que na verdade ainda não havia dançado.
Como vocês podem notar, fui gratamente surpreendida pela Colômbia. País de grandes riquezas, vasta beleza natural, petróleo, café, carvão, sal, agricultura, indústria, ouro, esmeraldas… E como esquecer de mencionar um de meus escritores favoritos, Gabriel García Márquez, e também Fernando Botero, o pintor e escultor mundialmente conhecido por suas criaturas “voluminosas”, como ele próprio as gostava de chamar. País de gente educada e amável. Consciente da importância do turismo para o crescimento de seu país. Povo que conhece sua história e que a aceita graças a Deus e não mais à Pachamama (mãe terra), ou aos Deuses Sol e Lua.
*
Bem, vejo que consegui manter um ritmo bem próximo da crônica. Dou-me conta, sobretudo, do bem que me fez contar a vocês sobre esta linda viagem, pois foi através dessa narrativa que pude claramente perceber o que me inquietou no filme sobre Violeta.
Deixo aqui algo para Violeta Parra:
gracias a ti Violeta
que no cupiste en todo
tu ancho dolor
pero alumbraste
mi alma e
hiciste reconocerme en
tu canto de dolor
menos mal no
se calla el cantor
así seguiré encontrándome en
otros cantos de amor…
— Monica Iriarte